O Maior Show das Quadras
Por João Dannemann
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Chris Webber (esquerda), Jason Williams (direita) e a capa da Sports Illustrated que deu nome a esse histórico time do Sacramento Kings. (Foto: NBA.com). |
No início de 2001, a revista Sports
Illustrated escreveu um artigo e devotou a capa para o Sacramento Kings de
2000-01, intitulando tudo isso de: "O Maior Show das Quadras". Após
se classificarem aos playoffs só uma vez nas 12 temporadas anteriores, os Kings
estavam recém-saídos de duas pós-temporadas seguidas e prontos para serem
reconhecidos como uma força na Conferência Oeste.
Lembre-se que esse time era pré-Mike
Bibby, pré-Robert Horry no jogo quatro, e pré... decepção. Essa equipe era
tomada de esperanças. E, de Natomas a Elk Grove, a "febre dos Kings"
era uma epidemia muito bem-vinda na capital da Califórnia.
O Sacramento Kings de 2001 estava
municiado de uma poderosa mistura de juventude, potencial e talento. A Sports
Illustrated não estava enganada ao chama-los de maior show das quadras. Apesar
de faltar o título que solidificaria a equipe como uma das maiores, nunca
existiu um momento de tédio vendo aqueles jogadores atuarem. Passes de
cotovelos em contra-ataques, cortes rápidos através da defesa, enterradas,
provocações, shorts folgados, pontes-aéreas e assistências fenomenais por toda
a quadra, os Kings jogavam com um estilo marcante, que a liga jamais viu igual.
A equipe titular deles tinha o feroz e
talentoso ala-de-força Chris Webber, o atirador de elite Peja Stojakovic, o
ala-armador de melhor defesa da época Doug Christie, o grandalhão versátil
Vlade Divac, e o destemido, chamativo Jason Williams como armador
titular.
Treinados por Rick Adelman (potencial de
Hall da Fama), eles tinham profundidade de elenco também, com Bobby Jackson,
Scot Pollard, Hedo Turkoglu e Lawrence Funderburke vindos do banco para fazer
rápidos porém duradouros impactos nos jogos. Depois de muitos anos de decepção
e dificuldade, foi uma bela época para ser fã dos Kings. Essa talvez seja a
melhor equipe da história da NBA a não conseguir um título.
Ajustes finais dos contra-regras
Os Kings draftaram Jason Williams em 1998,
assinaram com Vlade Divac e trocaram Mitch Richmond e Otis Thorpe por Chirs
Webber, antes da curta temporada de 1998-99 (por conta de uma greve dos
jogadores). Essas aquisições coincidiram com a chegada de Peja Stojakovic, da
Sérvia, que havia sido draftado em 1996, mas ainda não se tornara tão maduro
como atleta. Todas essas belas manobras estão na conta de Geoff Petrie, que
venceu o prêmio de Executivo do Ano na NBA duas vezes.
Liderados pelo treinador Rick Adelman
(recém-contratado) e assistido pelo ex-treinador de Princeton, Pete Carrill, os
Kings impressionaram as outras franquias com seu estilo de jogo rápido e boa
movimentação de bola. Na altura, ainda era uma equipe muito criticada pela
defesa ruim, pela displicência do jovem Jason Williams, que causava muitos
erros, e pela falta de liderança de Chris Webber, que sempre se apagava em
jogos decisivos.
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O sempre excêntrico armador Jason Williams ao lado do treinador Rick Adelman. (Foto: Bleacher Report). |
Nos playoffs daquele ano, enfrentaram o
experiente time do Utah Jazz, de Karl Malone e John Stokcton, que era o atual
campeão do Oeste. Apesar de perderem a primeira partida por mais de 20 pontos,
o jovem time dos Kings não se rendeu facilmente e venceu os dois jogos
seguidos, porém foi eliminado perdendo o restante das partidas, mas ainda assim
dando mais dificuldade ao Jazz do que se imaginava.
Em 1999-00, a única transação notável dos
Kings foi trocar o ala-armador Tariq Abdul-Wahad para o Orlando Magic, pelo
também ala-armador Nick Anderson. Eles terminaram a temporada em oitavo lugar
na Conferência, com 44 vitórias e 38 derrotas. Enfrentariam o poderoso Los
Angeles Lakers, de Shaq e Kobe, no primeiro round. Porém, mais uma vez, os
Kings não conseguiram passar de fase, perdendo por três a dois para os rivais
californianos.
O Grand Finale
Na temporada seguinte, de 2000-01, os
Kings trocaram seu ala titular, Corliss Williamson para o Toronto Raptors e
adquiriram o ala-armador Doug Christie em retorno, um movimento feito para
melhorar a defesa de perímetro da equipe. E foi crucial. Com Christie no
elenco, os Kings se tornaram o que estavam destinados a ser: uma grande equipe.
Além disso, ainda draftaram o ala-pivô turco Hedo Turkoglu, melhorando a rotação
do time.
Stojakovic, previamente usado como
ala-armador reserva, se tornou o ala titular, onde ele e Webber provaram serem
perfeitamente complementares. Webber tinha mais força, era mais atlético e
ajudava mais na defesa e dentro do garrafão. Stojakovic era pura técnica,
aliada a um arremesso de média e longa distância letal. E, enquanto os Kings
continuavam a melhorar, a sua popularidade crescia, culminando em fevereiro,
quando a Sports Illustrated lançou a famosa capa do Maior Show das Quadras.
Após a publicação, todos queriam ver os
Kings jogarem. Todos queriam ver a genialidade da troca de passes mais rápida
que a liga já viu. Era como um corpo com cinco cabeças. A todo momento, parecia
que os cinco em quadra sabiam exatamente o que o outro iria fazer. Haviam
poucas falhas, poucos problemas. Era basquetebol na sua mais pura forma, bem
exposto, bem trabalhado, coletivamente e individualmente.
A franquia abraçou o apelido e transformou cada jogo dos Kings em um verdadeiro espetáculo. A NBA já é famosa pelos seus shows de intervalo, performances durante os tempos técnicos, mas em 2001, o Sacramento Kings abusou disso. A marcante Arco Arena era transformada em um verdadeiro circo durante os jogos. Os diretores sabiam que os fãs estavam ali para ver o time mais chamativo da liga, então o entretenimento era estendido a cada minuto possível.
A vida dos jogadores também começou a mudar. O já badalado Chris Webber se tornou uma celebridade nacional, sempre envolvido em noticiários, falava o que pensava e ainda recebeu um aumento significativo. Não à toa que hoje, após a aposentadoria das quadras, Chris trabalha na televisão. Williams e Christie eram constantes alvos de polêmicas. Os armadores tinham perfis de bad-boys e não eram pessoas fáceis de lidar, nem dentro nem fora das quadras. Os únicos que se salvavam, dos cinco iniciais, eram os europeus Stojakovic e Divac. Vlade ainda se envolvia em uma polêmica ou outra, muito por questões de nacionalidade, mas era um cara tranquilo.
Naquela temporada, eles somaram 55
vitórias e 27 derrotas, a melhor campanha da equipe em 40 anos. Nos playoffs,
eles venceram sua primeira série em 20 anos, eliminando o Phoenix Suns, em
quatro jogos. No segundo round, novamente os Lakers, defensores do título da
liga. Os Kings, mais bem preparados, pareciam um adversário mais forte. Apenas
pareciam. Os Lakers, que venceriam seu segundo título consecutivo naquele ano,
varreram a equipe de Sacramento com certa facilidade, dando um final não tão
agradável ao show roxo e branco.
As cortinas ainda não fecharam
A equipe foi desmontada, começando pelo
seu ágil e inteligente armador, Jason Williams, que era a figura mais
carismática da equipe. O Chocolate Branco (como era apelidado) foi trocado para
o Vancouver Grizzlies junto com Nick Anderson, pelo armador Mike Bibby e Brent
Price. Apesar das atuações sempre espetaculares de Williams, os Kings tinham se
cansado da sua displicência e falta de objetividade. Foi uma mudança certeira.
Bibby era um armador mais pronto a levar a equipe adiante e provou isso mais
tarde.
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Polêmica foto do quinteto titular do Kings em 2001. Em cima: Vlade Divac e Jason Williams. Embaixo: Doug Christie, Chris Webber e Peja Stojakovic. (Foto: Reddit). |
Em 2001-02, eles terminaram com a melhor
campanha da liga, 61 vitórias e 21 derrotas, com a maior eficiência que Bibby
deu ao time, enquanto Williams encontrava dificuldades em se ajustar com os
Grizzlies. Após vencerem com facilidade as duas primeiras séries de playoffs,
contra o Jazz de Stokcton e Malone, e contra o Mavericks de Dirk Nowitzki, os
Kings enfrentariam mais uma vez seus arquirrivais, o Los Angeles Lakers, que
havia sido campeào nas últimas duas temporadas.
As Finais da Conferência Oeste entre as
duas equipes em 2002 são consideradas como uma das melhores séries de playoffs
da história da NBA. Numa série controversa, os Kings perderam no decisivo jogo
sete, em casa, ficando a um jogo de distância do que seria a primeira
classificação para Finais da equipe desde a mudança para Sacramento.
A série também ficou marcada como, até
certo ponto, duvidosa. Principalmente o jogo seis, em Los Angeles, no qual os
árbitros tomaram decisões que se suspeitam até hoje. Principalmente pelo fato
de que os Lakers bateram 27 lances-livres só no último quarto da equilibrada
partida. Muitas das faltas vieram de lances extremamente duvidosos, o que gerou
uma revolta da torcida de Sacramento na época. Depois do jogo seis, os maiores
jornais dos Estados Unidos questionaram a legitimidade da partida, inclusive,
com títulos escandalosos, mas de nada adiantou.
Mais uma vez, os reis não reinaram. Dessa
vez, com um show menos cinematográfico, porém mais eficiente. Daí em diante, o
declínio encontrou os palcos de Sacramento e, aparentemente, as cortinas seguem
fechadas até hoje.
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